sábado, 24 de novembro de 2012

QUE BRASIL É ESSE?

Educação desvalorizada produz cidadãos não pensantes, que aceitam qualquer lixo para seu representante público, é o que está acontecendo no Brasil, vamos refletir sobre isso, essa história começou quando foi instituído que crianças no ensino fundamental não poderiam ser reprovadas.
O que aconteceu com nossas escolas desde então?
1.       Ignorância multiplicada e conveniente para o futuro de determinados cidadãos que vêm na vida pública uma maneira de enriquecer ilicitamente, querem provas? Basta assistir noticiários e, para aqueles que são alfabetizados, ler o jornal.
2.       Violência, forma de manifestação do ignorante, que não se expressa através da inteligência, então acaba se manifestando com agressividade e descaso, o que aumenta o caos, e acabam por transgredir normas sociais e leis civis;
3.       Drogas, afinal mais um elemento de alienação da identidade do individuo, quanto mais à população necessita desses artifícios para tentar entender a própria infelicidade pessoal e social, mais a ignorância e a violência alimentam esse terrível mercado;
4.       Total falta de respeito ao próximo, afinal o ignorante violento e adicto, conseguirá entender o processo de alteridade?
E agora vem essa história de cotas nas universidades para as minorias?
Isso cheira a continuidade do processo de emburrecimento do nosso país, começamos na infância e vamos terminar com os jovens aspirantes a uma carreira, a uma profissão?
 Minorias existem porque os governos corruptos mantém esse empobrecimento cultural em vantagem própria.
Cotas nas universidades?
Quem as ocupará?
Os mesmos que foram empurrados na inércia da ignorância, em troca de um prato de sopa e um pedaço de pão?
É esse o Brasil que queremos? Escondido atrás de minorias, que não necessitam ser minorias, abrindo caminho para essa palhaçada que anda acontecendo?
Vejamos o resultado de nossas eleições, quantos notórios corruptos continuam a representar o povo, o povo que na sua ingenuidade acredita em palavrórios e não tem condições intelectuais de avaliar um bom gestor. Porque a má administração também é doença social, administradores que não sabem o que fazem, geram dívidas e destruição, porque o dinheiro suado do povo, é gasto de forma irresponsável.
Aqui em Ribeirão Preto, falou-se muito em respeito aos pobres, viu-se muitos beijos e abraços em pessoas simples e crentes na falsa boa vontade, resultante de ambições pessoais e, talvez até, medo do futuro, e agora mete a faca no fígado dos infelizes que acreditaram nisso, e propõe o aumento do IPTU em 800%, para tentar livrar a cara das dívidas indevidas. Nunca vi tanta denúncia sobre o assunto nos jornais locais e estaduais, quem sabe o Ministério Público começa a entender que há algo pobre no reino.
Além do mais, só vejo falar de corrupção, mas ainda não vi ninguém ser punido DE VERDADE.
Está mais do que na hora, ou melhor, já passou da hora, de lutarmos pela nossa dignidade, por um Brasil mais justo, não podemos mais ser permissivos, precisamos eleger cidadãos de bem, para que o futuro seja de luz. Tivemos oportunidade de fazer isso, nas eleições passadas, e não valorizamos, daqui a dois anos, poderemos escolher novos e atuantes deputados estaduais, federais, senadores e um presidente que seja idôneo e idealista, empreendamos desde já excelente processo educativo para que saibamos quem são eles... VAMOS FAZER MELHOR?

sábado, 3 de novembro de 2012

Esperança

Hoje é sábado, acordei acreditando que o mundo pode ser transformado apenas com um olhar.
 Um olhar de desdém para aqueles que nos querem ver infelizes, aqueles que nos olham querendo que as lágrimas escorram por nossos olhos, um sinal inconfundível de infelicidade; mas, não conseguem visualizar a necessidade da lágrima na hora da alegria, da emoção genuína que nos enlouquece a alma, e uma enxurrada de água benéfica que acaba transbordando por nosso espelho corporal, é apenas a marca do bom momento.
Um olhar de esperança, pois acredito que o dia hoje é sempre melhor do que aquele que se foi, e nos trouxe a esperança daquele que ainda precisa ser vivido, escrito, dançado, banhado em lágrimas de felicidade.
Um olhar de interrogação, vivaz e despretensioso, afinal sou apenas uma nuvem carregada de esperança e desdém com o passado, que passou, e hoje é imutável, não pode ser reescrito, mas pode ser revivido na onda que revolta nos traz uma nova oportunidade, de fazer e viver.
Um olhar assim de “deixa prá lá”, não sofra porque não é necessário, não lamente porque não resolve, não sinta raiva de você mesmo porque isso apenas complica; olhe assim: prá frente, pro alto, prá dentro!
Um olhar de quem sabe que a vida continua, apesar de você ser apenas uma leve brisa, mas sabendo que por maior que seja a tempestade que a acompanha, um dia o vento cede lugar a chuva, a chuva cede lugar à semente que brota, e aquele lugar insensível ao seu pranto, já virou um jardim.
E eu sou assim, um dia lá e outro acolá, mas sinto o perfume da flor orvalhada pela luz do dia, que acorda dentro de meu coração o melhor que posso ser ...  hoje.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

BERÇO DE LUZ


BERÇO DE LUZ

Uma alegria imensa invade meu coração a cada novo livro, é como uma vitória sobre as minhas próprias limitações, aprendo muito com um mestre incrível, Vinicius (Pedro de Camargo), um amigo exigente, que acrescenta sempre algo novo em minha vida.

Berço de Luz, tem algo a mais, também é uma homenagem a um grande amigo que partiu para outras aventuras, outras vivencias, na verdade a verdadeira pátria de todos nós, o mundo dos espíritos, estou falando de Júnior, Rubens Rodrigues dos Santos Júnior. Com saudades, mas também grata por estar em nossas vidas.

Berço de Luz conta a história de Raquel, uma jovem adolescente que experimenta uma das mais belas experiencias para uma mulher, a gestação de um filho, mas também precisa lutar contra a insegurança e o medo da incompreensão da sociedade, desde a família, a escola, etc.

Berço de Luz nos mostra que sempre há um propósito maior em tudo que vivemos, precisamos apenas acreditar e viver essa maravilha.

Vinicius encerra esse livro com o seguinte comentário, que é pura esperança para a humanidade:

"Olhando o céu, vimos uma bola de fogo explodindo em milhões de pequenos focos luminosos, dourados e quentes como o próprio sol, iluminando a escuridão e produzindo um som, que mais nos pareceu o lamento triste e mavioso de uma baleia.
            Mais do que admirados, emocionados, vimos que os pequenos pontos dourados se transmutavam em pequenas explosões prateadas, invisíveis aos olhos humanos, mas que queimava a densa energia que encontrava em seu caminho. Transformando trevas em luz de esperança.
            Observando o espetáculo da natureza profícua, entendi que embora existam várias maneiras de experimentarmos o nascimento do espírito em um corpo de bênçãos, todos os berços são berço de luz."

TOMODASHI, EU E O LAGO

TOMODASHI, EU E O LAGO

Aqueles foram dias difíceis, meu coração palpitava ansioso em busca de respostas para tanta dor, minha alma insatisfeita recusava a realidade que me confrontava a fé.
Entrei, quieto e triste, no consultório do médico, esperava os resultados daqueles exames como se não mais houvesse o amanhã.
            Estava sozinho, eu, meus preconceitos e minha falta de esperança, ouvi o diagnóstico em silencio, eu estava com leucemia, nem mesmo perguntei sobre sintomas, curas ou mesmo se minha vida estava terminando.
            Sai dali apalermado, com pena de mim mesmo. Não sabia o que fazer para minimizar minhas dores e meus receios, não alimentava esperança, nem mesmo acreditava no futuro.
            Parei o carro junto ao Bosque Municipal, na cidade de Ribeirão Preto, olhei para a imensa área verde, resolvi andar por ali, quem sabe assim esgotava aquele cadinho de sofrimento, e quando saísse dali a vida teria voltado a ser feliz.
            Caminhava vagarosamente, sem ver, sem sentir, sem sonhar. Sentei em uma pedra, estava no Jardim Japones, algumas pessoas caminhavam e desfrutavam o bem estar da manhã radiosa.
            Levantei de meu assento, cabeça baixa, pensamentos negativos e infelizes; aproximei-me de um lago e fiquei observando os peixes que afundavam e voltavam à superfície. Pensei, angustiado:
- Eu apenas estou afundando, nunca mais irei emergir desse poço de escuridão.
            Um senhor de aparência frágil, os olhos rasgados, a pele viçosa e os lábios desenhados num sorriso feliz, ainda com dificuldades para se expressar em português, se aproximou de mim, tranquilo falou:
- Sou Tomodashi. Aqui lago é curto, não morri não.
            Olhei para aquela pequena criatura e pensei:
- Deve ser do Japão, ainda nem fala português direito. Até parece que ele sabe o que me vai na alma.
- Olhos são espelhos, gente precisa saber enxergar no espelho. Olhos tristes e sem esperança, amargura no coração. Tomodashi de Tomodashi pode ser.
- Tomodashi de Tomodashi.
            Ele riu feliz e falou com humor:
- Tomodashi, é nome meu; mas tomodashi também é palavra para amigo.
            Ainda confuso por minha própria dor, não entendi direito a sua fala, então perguntei:
- Tomodashi, quer dizer amigo?
- Isso, isso, Tomodashi quer ser do senhor.
- Sou André, e estou triste porque descobri que estou muito doente.
- Ah! – Tomodashi fez pequena pausa e continuou – doença é triste mesmo, principalmente, quando nos rouba o tempo de felicidade. Tomodashi também está doente do corpo, mas não da esperança. Médico falou: tem seis meses. Tomodashi resolveu que esses dias serão os melhores, afinal é bastante tempo para amar mais e olhar a vida com alegria. Tomodashi resolveu não perder esse tempo de esperança.
- E quanto tempo ainda lhe resta?
- Nem Tomodashi, nem médico sabem, já passou seis anos.
            Olhei para o rosto sorridente de meu tomodashi, feliz abracei-o e sai correndo, precisava ver meus netos, meus filhos e minha esposa.
            Havia dado alguns passos, lembrei que precisava saber onde encontrar meu novo amigo Tomodashi, então voltei atrás em meus passos, mas ele não estava lá.
            Uma senhora sentada a minha frente, sorriu e falou com carinho:
- Eu também o vi uma vez, e nunca mais o encontrei, mas está em minhas preces de agradecimento todos os dias.
- E quem é ele?
Ela me olhou com os olhos marejados de lágrimas e, emocionada, falou:
- Um presente de Deus.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

A MINHA VERDADE

sábado, 9 de junho de 2012

COISA DE DOIDO NA UPA TREZE DE MAIO

Ontem, dia 09 de junho de 2012, aproximadamente às 20.00hrs., estive no UPA da Treze de Maio, Ribeirão Preto, com minha filha Bruna, que fez uma cirurgia bariátrica, no HC RPO. Como o HC Campus não atenderia nesse horário, fomos instruídos a procurar um Posto de Atendimento, porque o dreno abdominal estava entupido, caso, relativamente grave, se não for resolvido. Lá chegando, recebemos excelente atendimento das recepções e de um enfermeiro, que infelizmente, não sei o nome, mas se ele ler esse texto vai saber que falo dele; as coisas começaram a complicar quando fomos encaminhados para o "médiquinho" de plantão, ele estava recostado na cadeira e assim continuou, olhou para minha filha e para o dreno entupido e disse:
- Aqui não temos recurso para mexer com isso. Na verdade nem sei como isso  funciona.
Sinceramente, olhei para ele com cara de tonta, acreditei, de verdade mesmo, que eu tinha escutado ou entendido errado. Então, questionei:
- O QUE?
- Sei que vocês esperavam mais de nós, mas não podemos fazer nada.
Então, minha filha olhou para ele com raiva e disse:
- E o que eu faço? Morro com infecção?
- Espera um pouco que eu vou procurar um médico que entenda disso? Talvez eu encontre um professor.
Eu e a Bruna ficamos olhando uma para a outra, acho que questionando se aquela cena bizarra tinha acontecido de verdade, porque até agora eu ainda duvido de minhas lembranças.
Alguns minutos de silencio passaram, assim passando...  aí o “médiquinho” voltou acompanhado do tal médico de verdade, que também não sabia o que fazer com o dreno entupido, então era outro médiquinho, e de agora em diante sem aspas, porque acredito que ainda os estou elogiando.
Nesse momento, o 1º. Médiquinho teve uma brilhante ideia, então aconselhou a Bruna: para ir embaixo do chuveiro, soltar a bolsa coletora do dreno, e sacudir o caninho que estava preso dentro da barriga até soltar o material que a obstruía. Juro que não acreditei, então perguntei a ele:
- Mas... Não é perigoso haver contaminação?
Ele me respondeu que achava que não tinha sido uma boa ideia, então resolveu que devia encaminhá-la à UE do Hospital das Clínicas, e para isso precisava fazer uma regulação, enfim um papel dizendo da urgência de atendimento para a paciente. Para mim, ele deveria escrever sobre a sua incompetência para desentupir um dreno, mas isso também seria pedir muito a minguada sua inteligencia, não é?
Passaram uns 20 minutos e eu fui perguntar se a tal regulação já tinha sido encaminhada a UE, ele me respondeu que não teve tempo, então me deu o papel e instruiu a procurar a dra. Silvia ou a dra. Camila. Lá fui eu:
- Preciso falar com a dra. Silvia ou Camila, por favor.
A enfermeira muito solícita me mostrou a dra. Silvia, atarefada, nem se virou direito para olhar para mim, ou escutar o que eu tinha para dizer, e falou irritada:
- Não vou pegar mais nada. Estou com dois pacientes graves.
Tudo bem, até entendi, ela afirmou estar com dois pacientes graves, então, voltei-me para a enfermeira, que estava visivelmente consternada, e perguntei da dra. Camila. Ela apontou um consultório e lá fui eu, de novo.
Entrei no consultório e lá estava ela, a médiquinha mais médiquinha que já vi, sentada atrás da escrivaninha, caneta na mão, olhou para mim, sem me ver, e perguntou?
- O que foi?
Expliquei o caso, que precisava da tal regulação, e ela:
- Não vai dar (empurrando a folha de volta para mim), não vou pegar esse caso não.
Eu perguntei o que eu deveria fazer, e ela:
- O que a senhora quer que eu faça?
- O que eu quero? Não sei, eu não sou médica e nem funcionária dessa merda, nem sei como isso funciona, e pelo jeito você também não.
Ela continuou me olhando como se eu não estivesse lá, foi aí que eu pirei.
- Voce fez um juramento para trabalhar como médica? Cade seu compromisso? Seu juramento foi de hipócrita e não de Hipócrates. Aí atrás dessa mesa você parece mais uma secretária, incompetente por sinal, do que uma médica. Quer saber? Vai pro inferno.
Sai daquela salinha e no corredor dois policiais me olhavam penalizados, falei com eles aos berros, peço desculpas, e eles apenas concordavam com minha postura desorientada, acredito que entendendo o que me levou à loucura, afinal devem ver isso a todo instante. Enraivecida, gritei, alto e forte, dentro daquela UPA:
- Pelo amor de Deus, tem aqui algum médico de verdade que possa ajudar minha filha?
Aí o enfermeiro, gente fina, veio me auxiliar, pegou o tal papel e foi em busca de solução, até me ofereceu um copo de água, mas naquele momento só aceitaria se fosse balde, vocês sabem para fazer o que.
Resolvi telefonar para um amigo que trabalha no HC, então ele me instruiu a ir direto a UE, fui... e nem disse tchau...
Que beleza! Os médicos de lá, da UE do HC,  ouvem, escutam e respondem... Vocês acreditam? Em menos de cinco minutos, a Bruna foi atendida, por três médicos de verdade mesmo, aparentavam menos de trinta anos, muito seguros, sábios, educados, delicados e respeitosos, nos passaram segurança e confiança, percebemos que aqueles jovens médicos sabiam o que estavam fazendo, faziam com amor ao paciente e a profissão,  e, pasmem, sabiam que aquele negócio que estava entupido tem até nome,  dreno de Blake, que tem conserto, mas precisa saber fazer, e lógico ter feito medicina e frequentado as aulas.
Estou contando com riqueza de detalhes tal história porque até agora fico na dúvida se, realmente, vivi esse caos, dentro de uma Unidade de Pronto Atendimento, da prefeitura de Ribeirão Preto, sob a direção da prefeita Dárcy Vera e do secretário da saúde Stenio José Correa Miranda.
O que adianta a estrutura física de primeira qualidade, se o principal, o corpo médico, não corresponde às necessidades básicas de conhecimento para atender aqueles que estão em busca de ajuda?
Como esses médiquinhos empoados, metidos de nariz em pé, com o álter ego alterado a ponto de se considerarem deuses corrompidos pela vaidade decrépita, prepotente, mal educados, sem compaixão, sem respeito e sem profissionalismo passam a fazer parte do corpo clínico da rede de saúde pública? UPA... deve ser QI?
Enquanto esperava a tal regulação, vi uma senhora sair do consultório atendido por aquele primeiro médiquinho, abismada, com dor no peito e tossindo muito, e com uma receita de Omeprazol nas mãos, sem um exame, sem respeito algum por parte desse atendente, que se diz médico.
Vou deixar aqui uma pergunta aos responsáveis por nossa cidade, aqueles que receberam votos de confiança da população para agir em nosso nome, afinal de contas, nossos empregados, somos nós que pagamos os seus salários, alias altíssimos para a qualidade dos serviços recebidos:
E AÌ? Meu nome é Eliane Teresinha Macarini de Freitas, e nessa noite memorável na UPA da Treze de Maio que estava lotada, eu vivi essa história de loucos, então é só procurar as testemunhas por lá mesmo, caso haja dúvida...

domingo, 27 de maio de 2012

Isso é ingratidão ou apenas...

Se algum dia você for surpreendido pela ingratidão ou pela injustiça, não deixe de crer na vida, não deixe de ser um exemplo, não deixe de amar e não deixe de se construir pelo trabalho. (Alfredo Martini Júnior)
          
            Há dias ando meio chumbrega, ando vivendo algumas experiências que tem ocasionado certa dor, não sei ainda se essa certa dor é derivada de minha própria incompreensão, ou da incompreensão do outro.
            As minhas lembranças são tão nítidas e claras, que, em muitas situações, me vejo vivendo o oposto da lembrança do outro. Essas lembranças, eu sei muito bem, adquirem a aparência de nossos sentimentos e de nossa visão daquele momento, justifico assim as diferenças; mas, essas diferenças assumem pontos conflitantes tão opostos, que acabo por me questionar sobre a veracidade de minhas lembranças.
            Ainda muito jovem, uma aprendiz de tudo, uma folha quase em branco, ouvia algumas opiniões de minha avó Nene, sobre a necessidade de sermos lúcidos em nossas vivencias, para que essas experiencias pudessem de alguma forma, mais suave ou mais intensa, nos ajudar no processo de educação de nosso espírito. Uma das frases mais nobres dessa pequena senhora era: “Lembre-se dos sentimentos despertados por sua ação ou pela ação dos outros, isso fará com que você saiba escolher melhor nas próximas oportunidades”.
            Demorei um pouco mais acabei entendendo a intenção de Dona Nene; “Faça ao outro o que gostaria que fizessem a você.”, também um aconselhamento de nosso admirável irmão Jesus.
            Diante dessas considerações, volto aos meus questionamentos sobre minhas lembranças e minhas razões, afinal, é isso que me incomoda hoje, e é sobre isso que necessito refletir.
            Lembro de algumas situações vividas,  nas quais permaneci ao lado de algumas pessoas, incondicionalmente, independente da qualidade de suas ações, com a intenção única de auxiliar a sair, não raras vezes, de padrões mentais tão doentes e sofridos, que a razão não mais se fazia presente. A minha visão de auxiliar alguém, seja quem for, está baseada na verdade, aquela que enxergo, e não admito a mim mesma, uma posição dúbia, mas sim de alerta diante do problema, e vendo tudo isso como oportunidade de agir na construção da própria vida, assim é uma visão de esperança e responsabilidade sobre o que escolhemos, e que pode dar certo ou não, afinal somos cem por cento donos de nossa vida.
            Outra coisa que também preso muito, ser uma ouvinte e opinante de confiança, afinal o que conversamos sozinhos, assim permanecerá, e então não adianta perguntar a razão disso ou daquilo, pois ninguém saberá.
            Certa ocasião uma pessoa me questionou a respeito da qualidade de minha relação com uma pessoa muito querida, que andava meio embaralhada em suas escolhas, cobrando uma atitude mais rígida e firme de minha parte; mas, como poderei expor meu relacionamento com alguém que confiou em meu silencio? E qual a necessidade de outro saber o que eu disse ou não disse a um terceiro? Fará diferença para aquele que anda sofrendo consequências de sua própria insensatez? Acrescentará algo positivo para que no futuro faça escolhas melhores? Divulgar o pensamento alheio é um ato de fé em si mesmo e na potencialidade do amor que constrói?Ou apenas uma maneira de satisfazer a curiosidade do outro?
            O que ocasionou essa reflexão foram alguns fatos acontecidos recentemente, alguns comentários, uma palavra jogada aqui, outra ali, que despertou uma dor surda em meu coração; pois, alguns desses fatos ou comentários, não reproduzem a verdade, aquela que, realmente, ocasionou a ação de alguém; mas, eu sei de minha ação e de minhas razões, que foram em busca de resolver algo e transformar esse acontecimento em algo produtivo.
            Sei das limitações dos outros, pois eu as tenho como minhas, pois ainda transito de maneira confusa entre o real e o imaginário, então, penso muito antes de realizar uma ação, seja ela efetiva ou não, verbal, mental ou apenas um descompromisso com o outro. Penso sobre o que ocasionará a minha ação ao meu “alvo”, sobre a qualidade das minhas intenções, afinal eu acabo agindo no mundo de alguém e quero, sinceramente, que essa ação produza algo bom.
            Por que estou sofrendo? Por sofrer ações ingratas? Ou eu estou sendo ingrata com as lembranças alheias? Qual o valor do direcionamento que procuro dar as minhas ações? Serão eles uma maneira de ser hipócrita? Ou realmente eu sinto o que faço como correto?
            Sei que as questões que nos incomodam acabam nos auxiliando no excelente processo de aprendizado moral, mas ainda sinto dor, nessa caminhada, e não raras vezes, lesada no amor que dedico aos que tanto preso.
            Ainda pergunto a esse espírito ignorante, eu mesma, sobre o valor de minhas relações afetivas, pois não é raro, ter a sensação de ser apenas aquela que é necessária nos momentos de sofrimento, para logo em seguida ser esquecida como parte indesejável desse momento.
            Hoje, sinto uma solidão imensa que me envolve, pois preciso ser escutada, mas o barulho a minha volta, acaba por calar a minha voz.
            Cora Coralina fez um poema que descreve a minha dor de hoje, mas isso passa e amanhã é um novo dia, e o bom é que a minha crença ainda faz par com a frase que iniciei essa prosa amiga:
Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

REFLEXÃO SOBRE A VIOLENCIA CONTRA A MULHER

Ouvimos e lemos histórias de violência contra a mulher e nos revoltamos, queremos que o famigerado autor do crime sofra todos os males possíveis e imaginários, que pague de maneira horrenda por seus atos desequilibrados.
E quando a história está próxima de nossa vida, de nossos amigos, de nossos familiares, então... os pensamentos vão longe, a imaginação cria e recria a nossa ação para cima do infeliz, isso mesmo é um infeliz.
Vocês podem até ficar bravos comigo, mas esses homens violentos são infeliz, há estudos sérios a respeito do assunto, psiquiátricos e psicológicos, e essas relações doentes e obsessivas, são resultado do posicionamento de ambos, aqueles que integram essa relação apodrecida e triste. 

A nossa visão imediata dirige a nossa reação devido visão da mulher vítima, um ser mais frágil fisicamente, muitas vezes sentindo-se incapacitada de sair de uma situação de crise, mas capaz, com certeza.
Vou comentar com vocês dois casos que me marcaram bastante:
1.  Trabalhou comigo uma moça muito querida pela minha família, e nos sentíamos impotentes diante da violência que sofria por parte do marido alcoólatra. Nós a aconselhamos a procurar a Delegacia da Mulher e dar queixa, e isso foi feito inúmeras vezes... sem resultado positivo para minha amiga e seus filhos vitimados.

Certo dia, ela chegou para trabalhar e eu fiquei chocada com o estado de violência que havia acontecido na noite anterior em sua casa, então ela me contou o seguinte:

- Eu estava dando banho nas crianças e ele chegou mais cedo do bar, o jantar não estava pronto e ele com raiva por eu ter dado preferência no cuidado de meus filhos, partiu para cima deles e me coloquei na frente.

Ela apresentava cortes e hematomas por todo o corpo, seu olho estava inchado e sangrando no supercílio, revoltada, e brava por ela permitir este estado de coisas, disse com firmeza:

- Olha aqui! Se você aparecer de novo nesse estado para trabalhar, a culpa é só sua. Ele é grande, ele é forte, mas não é dois. E você não é nenhuma incapaz para se defender, além do mais ele está alcoolizado e sem muitos reflexos. Ele só te bate, porque você permite, abaixa a cabeça e deixa acontecer. Então, minha amiga, eu te amo muito, mas não tenho mais pena de você.

Ela trabalhou o dia todo, chorando, e eu com uma vontade louca de me retratar e dizer que não era nada daquilo, mas no momento, era o que eu estava pensando.
Passou-se uns dias e ela chegou a minha casa, alegre e orgulhosa, dizendo:

- Mandei ele para o hospital.

Abismada, olhei para ela, com olhar de indagação.

- Eu estava fritando pastéis para as crianças, ele chegou bêbado, e avançou para meu filho, aí lembrei o que você falou. Parece que criei uma força enorme dentro de minha revolta, catei a frigideira com óleo e pastel e dei uma surra nele. Ele gritava tanto que o vizinho veio ajudar e acabou levando ele pro postinho da vila. Aí chegou a polícia e disse que eu posso ser processada por agredir o infeliz do meu marido, que vivia me agredindo. Olhei pro guarda e dei risada e disse para ele que não conhecia nenhuma Lei Mario da Penha.

Resultado: o marido de minha querida amiga saiu do hospital e voltou para casa. Na porta de entrada da residência, há vinte anos, tem uma frigideira pendurada como lembrete que ela pode reagir e colocá-lo em seu lugar.

Atualmente, eles tem dois netos, uma casa muito bem cuidada e mobiliada, ele não bebe mais e no dia do pagamento, ela espera por ele no portão com as mãos estendidas.

Precisava acontecer tanto sofrimento para uma pessoa reagir e descobrir que tem direitos?
Não, violência não se resolve com violência, mas precisamos descobrir que temos a capacidade de saber o que nos é permitido e o que podemos permitir, como também saber de nosso direito em aceitar ou não determinadas coisas, mas isso, vai um tempo longo, é um processo de reeducação social.

2.    Uma amiga recente percebeu que seu marido andava mudando o comportamento, passou a observá-lo e descobriu que estava fazendo uso de drogas. Conversou com ele, limitou seu acesso ao dinheiro, levou-o ao médico, mas... ele não queria a melhora.

Um dia chegando a casa depois de um longo e cansativo dia de trabalho, encontrou-o totalmente louco, queria dinheiro de qualquer maneira, dentro de seu desespero agrediu-a e também a criança que estava em seus braços.

Ela conseguiu fugir dali e foi a uma delegacia próxima pedir ajuda. Quando a polícia chegou a sua casa, ele havia levado tudo que podia vender ou trocar por drogas.

Ela chamou um chaveiro, trocou as chaves das portas, arrumou as coisas dele em caixas e deixou na casa dos sogros.

Quando o infeliz voltou a si e percebeu o que estava acontecendo, ainda tentou agredi-la, culpando-a de abandoná-lo naquela situação. Sabe qual foi a resposta de minha amiga?

- Você está muito enganado, descobri que até o momento eu estava errada escolhendo viver nesse inferno com você. Você fez uma escolha e não me consultou. Quando nos casamos, também nos compromissamos a resolver tudo juntos, quem abandonou essa casa, essa família foi você. Você nos trocou por uma cápsula de cocaína. E pode ter certeza que essa escolha é sua e não minha, e nem de meu filho.

Ela está bem, depois de um longo tempo de ameaças e perseguições, quando a questionei sobre ter medo dele, ela me disse:

- Tenho mais medo de viver presa a ele, do que morrer por lutar contra isso. Tenho mais medo de ver meu filho acreditando que usar drogas é normal, porque vê o pai fazendo isso, do que ser morta por ele. A minha luta é por liberdade, e apesar das perseguições e das ameaças, eu estou livre daquele inferno.
Sei que existem casos de violência extrema, que acabam em desgraça, mas... por que as coisas chegam a esse ponto?
Ser vítima não será permitir a invasão de nossos direitos?
Sei até mesmo que muitas dessas mulheres sofrem terríveis panoramas mentais, até mesmo chegando ao ponto de se considerarem culpadas da ação do outro, mas será que apenas uma lei fará diferença ou será o nosso posicionamento no exercício desta lei?
Ou será ainda nossa disposição em encontrar novos caminhos através das conquistas, como a Lei Maria da Penha?
Aí volto a questionar o processo de educação social, efetivamente, o que podemos fazer?
Não tenho respostas, estou em busca delas, apenas percebo que medidas paliativas não é solução, muitas vezes apenas prolongam a dor.
Qual a finalidade desse texto? Apenas um convite à reflexão.


Estou firmemente convencido

que só se perde a liberdade

por culpa da própria fraqueza.

(Mahatma Gandhi)

terça-feira, 17 de abril de 2012

CARIDADE PARA AS FORMIGAS

Trabalho como voluntária na Sociedade Espírita Cáritas, outro dia, coordenado um trabalho de educação mediúnica, na hora destinada aos estudos e reflexões, as pessoas começaram a questionar sobre a esmola.
Qual o valor de dar-se algo a alguém sem ter vínculos que levam a um processo de aprendizagem?
Dar dinheiro é certo ou é errado?
Então lembrei uma história vivida por uma prima muito querida, a Olga, e minha tia do coração, Anita Gilberto, a dona Nita como era conhecida, nessa encarnação.
Somando a essa minha experiência , minha conclusão sobre esse polêmico assunto está assentada em uma máxima do Evangelho de Jesus: Dar sem olhar a quem, ou, fazer o bem pelo bem. 

Só isso! 

Fácil? Não mesmo, afinal, espíritos impuros e ignorantes, ainda estamos descobrindo a diferença entre o bem e o mal.
E voltando a história de minha prima, a Olga estava sentada na porta de sua casa, na cidade de Franca, era domingo, final de tarde, observava a rua tranquila, vez ou outra passava uma criança de bicicleta, outra vez um carro dirigido por uma pessoa de olhos tristes ou alegres, e assim passava o dia. De repente, levantou os olhos e a sua frente um garoto lhe disse:
- E aí, tia, tem umas moedas para dar?
Naquele momento a Olga pensou:
-  Será que ele é do mal? Pode ser um ladrão! O que faço? Credo! Tô parecendo esse povo que só pensa mal dos outros, não quero isso não!
Sem saída, ali acuada entre a porta de sua casa e o jovem, que já via como um necessitado, resolveu manter a calma e disse sorrindo, daquele jeito especial que ela tinha, um sol que iluminava a todos:
- Dinheiro não tenho, mas posso fazer um lanche para você.
- Tá bom.
Ela entrou em casa e encontrou sua mãe, a tia Nita, na cozinha, terminando de limpar as louças, que logo perguntou se ela ia fazer bagunça de novo.
- Ah! Mãezinha tem um mocinho na porta com fome, vou fazer um lanche para ele com a sobra do almoço.
- Voce não toma jeito, não aprende mesmo. Eles não comem nada, jogam tudo fora, esses vagabundos só querem é dinheiro.
- De qualquer forma, eu vou fazer o lanche.
- Não falo mais nada. Faça do seu jeito, mas depois não reclama.
Rindo do jeito descrente da minha tia Niita, ela fez o lanche, entregou para o rapaz que o recebeu com um sorriso e agradeceu com amabilidade.
Uma hora após a inesperada visita, minha tia saiu de casa para visitar uma prima adoentada; mas, em poucos minutos estava de volta, com o rosto afogueado, gesticulando nervosa, enquanto falava coisas sem muito sentido. Preocupada, a Olga pediu a ela que se acalmasse e falasse com calma.
- Eu não falei? Eu não falei? Você com essa história de caridade... o desgraçado saiu daqui com o lanche na mão e agora está lá na esquina, jogado no chão e cheio de formiga.
Então a Olga sorriu daquela figura ímpar, amada e abençoada, sua mãe, e disse com calma:
- Mãezinha, eu fiz caridade para ele aqui e ele para as formigas lá na esquina.
Foi a vez de Dona Niita olhar para ela, e  gargalhando, disse:
- Só você mesma, para ver bondade nessa história.

Saudades de você querida prima, que sua estada por ai, no mundo dos espíritos, seja tão marcante como esse período que esteve conosco por aqui. Eu a amo muito, sempre!

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Fernando Sabino