domingo, 29 de novembro de 2015

EU NÃO SOU VICIADO


EU NÃO SOU VICIADO, EU PARO A HORA QUE QUISER!




Você já ouviu alguém falando esta frase? Eu não sou viciado!

O que é ser viciado? No dicionário está explicado assim: Pessoa que se adequa, muito profundamente, a um estilo de vida, muitas vezes prejudicial ou incomum, ou ainda, que é dependente de alguma coisa ou substância ou alguém. Aquele que tem vício, corrupto, impuro, falsificado.  Defeito grave que torna uma pessoa ou coisa inadequada para certos fins ou funções, inclinação para o mal, desregramento habitual.

Triste o panorama mental daquele que por se ater a uma forma de pensar e agir, e acaba por comprometer a sua própria identidade, afinal quando rejeitamos a ideia que podemos ser submetidos a ações repetitivas, sem questionamentos ou reflexões, estamos no caminho do vício.
Estar viciado é uma situação transitória para as mentes criticas, pois estes, por mais que sejam tentados a ações que corrompem a sua integridade e liberdade, por prazeres momentâneos, acabam por questionar o resultado de seus atos. Os vícios nos levam a um estado de caos funcional, tanto no aspecto físico, como emocional e mental. Seja ele, o vício assentado em ações materiais, como a ingestão de alcoólicos, como o pensamento preso a ideias obsessivas.
Quando perdemos a liberdade de movimentação, também perdemos a clareza de raciocínio e a capacidade de elaborar projetos novos, pois sempre será um obstáculo a realização de atos ou manipulação de sentimentos, que irão nos roubar momentos de prazeres corrompidos, falsos e impuros.
O raciocínio corrompido acaba por distorcer a visão de mundo, que engessa nosso querer e a capacidade de criar e transformar.
A manifestação dos vícios materiais são apenas reflexos sutis de nossos vícios morais. Quem erradicou de sua mente vícios morais, não os manifesta através de ações e reações comprometidas com as imperfeições que ainda fazem parte de nossa formação pessoal.

Pensar sobre o nosso comportamento, a maneira como nos manifestamos no mundo, interior, muito pessoal em nível de pensamento, exterior através do convívio com nossos semelhantes, é buscar formas mais saudáveis de viver. Quando nos propomos a modificar nossa relação com o mundo, estamos também economizando momentos de sofrimento, afinal passamos a entender a responsabilidade que temos diante de toda forma de vivência, que alias, são resultados de nossas ações.

Na definição de viciado me chamou a atenção o seguinte: pessoa que se adequa, muito profundamente, a um estilo de vida, muitas vezes prejudicial ou incomum; isso fica bem claro, nada do que vivemos está fora de nosso panorama mental, precisa haver afinidade, desejo, prazer, caso contrário haveria rejeição natural ao fato ou à ação.

Se há o vício em substâncias químicas, como os alcóolicos e as drogas, é porque esse ato o atrai, não há culpados ou mesmo indivíduos que incentivaram a desenvolver o vício, apenas você que resolveu que dava conta de controlar algo, do qual não aceitou a gravidade de ação. E o caminho de volta é muito mais árduo e exigirá daquele que permitiu a existência desse vinculo terrível, decisão firme para reconstruir uma vida.

Há também os vícios comportamentais, como o sexo, a maldade, a maledicência, etc. todos vinculados ao nosso eu, intransferível e instrumentos de desequilíbrio e dor.

Na atualidade me preocupa sobremaneira o uso inadequado de uma belíssima ferramenta evolutiva, as redes sociais, os jogos interativos, a convivência impessoal e falsa diante de perfis criados para agradar ao outro, e que acaba por destruir a manifestação do eu verdadeiro.

Estava num restaurante com minha família, uma noite agradável, correndo atrás dos netos, rindo com as brincadeiras, vivendo uma relação que se desenvolve conforme aprendemos uns com os outros. Minha atenção foi desviada por uma risada alta, que começou e terminou diante de um celular, observei as outras pessoas da mesa, provavelmente uma família como a minha, mas cada um entretido no seu aparelho, não olhavam uns para os outros, apenas teclavam, intrigada percebi que riam ao mesmo tempo, ficavam sérios ao mesmo tempo, nem mesmo o garçom servindo o rodízio era percebido por eles. Triste impessoalidade, uma dessas pessoas, não tinha mais do que nove anos.

Esse desvio é tratado como transtorno do comportamento, há algumas clinicas que se adequaram para dar assistência a essas pessoas. 

"Em entrevista à Folha de São Paulo, o psicólogo do ambulatório de transtornos do impulso do Instituto de Psiquiatria do HC, Cristiano Nabuco, que atende viciados no Hospital das Clínicas de São Paulo, conta historias chocantes. Entre elas, o caso do homem que passou dois anos jogando, sem sair de casa, e a do adolescente que passava 40 horas ininterruptas no computador. Ele urinava e defecava nas calças. A obsessão invadiu até as paginas policiais, no ano passado, quando uma quadrilha sequestrou o melhor jogador brasileiro do game Gunbound. Como resgate, exigiram os pontos que ele acumulou em três anos de jogatina. No mercado negro, o credito virtual valeria R$ 15 mil."

ainda:

“O psicólogo Cristiano Nabuco explica que um jovem que tem baixa autoestima e dificuldade de se relacionar consegue constituir uma nova imagem e se esconder atrás do computador. “O caso do vício nos mais jovens é mais delicado e a tendência é que a intensidade do acesso nesta faixa etária da população seja mais acentuada”, explica o especialista.”

Atenção a tudo que nos acontece, principalmente, a nível mental, aos nossos sentimentos, como manifestamos nossos hábitos, pois a repetição constante de uma ação, num primeiro momento nos habitua a sua execução, para depois nos roubar a capacidade de raciocinar sobre os efeitos que nos causa, levando a dependência extrema em não raras ocasiões. Pare um momento no seu dia para avaliar as suas sensações e sentimentos, reflita e se necessitar modifique a forma como tem conduzido as suas ações mentais e comportamentais.

Estar viciado é um estado transitório para aquele que reflete e avalia a sua dor e a sua felicidade, pois até mesmo o estado feliz pode estar corrompido, adulterado, falsificado, o excesso de informação inútil que transita pela rede pode sobrecarregar a função mental dos menos avisados provocando doenças psicológicas e mentais, inclusive propiciando o isolamento social, provocando solidão doentia, disseminação de informações criminosas que acabam por ser banalizadas pela familiaridade, um exemplo é o aumento de usuários de sites de pedofilia.

Prestemos atenção em nós mesmos, em nossos pequenos que necessitam da supervisão e atenção de adultos mais equilibrados, façamos da internet um instrumento de verdadeira evolução para o ser, somente dessa forma haverá equilíbrio para todos nós, num planeta de criaturas mais sábias.

“Tenho mais compaixão do homem que se alegra no vício, do que pena de quem sofre a privação de um prazer funesto e a perda de uma felicidade ilusória”
Santo Agostinho