segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

SAUDADES SENHOR ELZO MACCARINI, SÓ SAUDADES!

Eliane Macarini, Elzo Maccarini e Ana Macarini
Hoje faz um mês que meu pai partiu. 
Não sei se consigo falar com naturalidade sobre esse fato, ainda dói bastante, sinto saudades, questiono algumas coisas, que fiz ou deixei de fazer. 
Ando naquela fase de avaliar esse relacionamento, mas também percebo que essa análise anda meio tosca, alquebrada pela dor dos últimos dias. 
Então... Deixo para lá, para no momento seguinte, num lampejo rápido ver o rosto de meu pai.
Foram doze dias internados, da última vez, porque no ano de 2015, estar por dias junto dele no Hospital São Francisco, era fato corriqueiro. Quando penso nesse fato vejo que posso olhar para o passado com tranquilidade, estava com ele e ponto. 
Voltando aos doze dias, foram difíceis, muito sofrimento físico, ele teve uma pneumonia aspirativa, e era um paciente de risco respiratório há mais de três anos, um enfisema pulmonar grave o debilitava e o mantinha preso a um concentrador de oxigênio.
Meu pai era um bom garfo, adorava comer, sentava à mesa no café da manhã com aquele olhar de expectativa... O que será que tem hoje?
Sentava à mesa no almoço e dizia: - Estou com fome, o que você fez hoje?
Às 4 horas da tarde ele aparecia na cozinha, olhava de um lado a outro e perguntava: tem lanchinho?
A sopinha do jantar era obrigatória, calor ou frio, ele a degustava com carinho.
E às 22 horas os remédios eram ingeridos com um chazinho de erva-doce. 
E naqueles doze dias antes de ser sedado, não podia comer ou beber nada. Quando passava o carrinho da copa pelo corredor dos quartos, seus olhos se enchiam de lágrimas. E várias vezes nos pedia, a mim e a minha irmã Ana Macarini, que nós lhe déssemos pelo menos um cafezinho.
Isso dói! Ele estava com fome e sede, perto de completar 90 anos, ele estava com fome e sede. 
Isso anda me perseguindo de forma... desequilibrada?
Não sei, mas dói.
Eu sou espírita, estudo muito, faço palestras, acredito em vida após a morte, em múltiplas vivências, acredito de verdade mesmo; mas, vivenciar esse conhecimento tem cobrado de mim, o exercício consciente do fato; mas... a emoção de estar presenciando o sofrimento de alguém que fez parte ativa em nossas vidas, a quem amamos irrestritamente, não raras vezes, rouba-nos a lucidez da reflexão... e questionamentos menores, desnecessários, os ranços vividos nestes momentos traumatizantes, voltam a nossa mente e nos cobra o devido lugar.
O que faço com essa dor latente que insiste em permanecer ativa? 
Viver o luto? O que seria isso?
De que maneira fazemos isso? 
Temos escolhas e podemos refletir sobre tudo? 
Refletir sem embustes, sem enganos, sinceramente?
Cada dor tem seu tempo, seu lugar, seu papel em nossas vidas. 
E ser espírita e portar conhecimentos sobre essa bendita filosofia, não nos permite dar saltos. 
Estou sofrendo e ponto. 
Preciso colocar cada sensação, cada sentimento, cada ação em seu devido lugar.
E hoje, agora, só posso dizer com certeza:
- Senhor Elzo estou com muitas saudades!