domingo, 27 de maio de 2012

Isso é ingratidão ou apenas...

Se algum dia você for surpreendido pela ingratidão ou pela injustiça, não deixe de crer na vida, não deixe de ser um exemplo, não deixe de amar e não deixe de se construir pelo trabalho. (Alfredo Martini Júnior)
          
            Há dias ando meio chumbrega, ando vivendo algumas experiências que tem ocasionado certa dor, não sei ainda se essa certa dor é derivada de minha própria incompreensão, ou da incompreensão do outro.
            As minhas lembranças são tão nítidas e claras, que, em muitas situações, me vejo vivendo o oposto da lembrança do outro. Essas lembranças, eu sei muito bem, adquirem a aparência de nossos sentimentos e de nossa visão daquele momento, justifico assim as diferenças; mas, essas diferenças assumem pontos conflitantes tão opostos, que acabo por me questionar sobre a veracidade de minhas lembranças.
            Ainda muito jovem, uma aprendiz de tudo, uma folha quase em branco, ouvia algumas opiniões de minha avó Nene, sobre a necessidade de sermos lúcidos em nossas vivencias, para que essas experiencias pudessem de alguma forma, mais suave ou mais intensa, nos ajudar no processo de educação de nosso espírito. Uma das frases mais nobres dessa pequena senhora era: “Lembre-se dos sentimentos despertados por sua ação ou pela ação dos outros, isso fará com que você saiba escolher melhor nas próximas oportunidades”.
            Demorei um pouco mais acabei entendendo a intenção de Dona Nene; “Faça ao outro o que gostaria que fizessem a você.”, também um aconselhamento de nosso admirável irmão Jesus.
            Diante dessas considerações, volto aos meus questionamentos sobre minhas lembranças e minhas razões, afinal, é isso que me incomoda hoje, e é sobre isso que necessito refletir.
            Lembro de algumas situações vividas,  nas quais permaneci ao lado de algumas pessoas, incondicionalmente, independente da qualidade de suas ações, com a intenção única de auxiliar a sair, não raras vezes, de padrões mentais tão doentes e sofridos, que a razão não mais se fazia presente. A minha visão de auxiliar alguém, seja quem for, está baseada na verdade, aquela que enxergo, e não admito a mim mesma, uma posição dúbia, mas sim de alerta diante do problema, e vendo tudo isso como oportunidade de agir na construção da própria vida, assim é uma visão de esperança e responsabilidade sobre o que escolhemos, e que pode dar certo ou não, afinal somos cem por cento donos de nossa vida.
            Outra coisa que também preso muito, ser uma ouvinte e opinante de confiança, afinal o que conversamos sozinhos, assim permanecerá, e então não adianta perguntar a razão disso ou daquilo, pois ninguém saberá.
            Certa ocasião uma pessoa me questionou a respeito da qualidade de minha relação com uma pessoa muito querida, que andava meio embaralhada em suas escolhas, cobrando uma atitude mais rígida e firme de minha parte; mas, como poderei expor meu relacionamento com alguém que confiou em meu silencio? E qual a necessidade de outro saber o que eu disse ou não disse a um terceiro? Fará diferença para aquele que anda sofrendo consequências de sua própria insensatez? Acrescentará algo positivo para que no futuro faça escolhas melhores? Divulgar o pensamento alheio é um ato de fé em si mesmo e na potencialidade do amor que constrói?Ou apenas uma maneira de satisfazer a curiosidade do outro?
            O que ocasionou essa reflexão foram alguns fatos acontecidos recentemente, alguns comentários, uma palavra jogada aqui, outra ali, que despertou uma dor surda em meu coração; pois, alguns desses fatos ou comentários, não reproduzem a verdade, aquela que, realmente, ocasionou a ação de alguém; mas, eu sei de minha ação e de minhas razões, que foram em busca de resolver algo e transformar esse acontecimento em algo produtivo.
            Sei das limitações dos outros, pois eu as tenho como minhas, pois ainda transito de maneira confusa entre o real e o imaginário, então, penso muito antes de realizar uma ação, seja ela efetiva ou não, verbal, mental ou apenas um descompromisso com o outro. Penso sobre o que ocasionará a minha ação ao meu “alvo”, sobre a qualidade das minhas intenções, afinal eu acabo agindo no mundo de alguém e quero, sinceramente, que essa ação produza algo bom.
            Por que estou sofrendo? Por sofrer ações ingratas? Ou eu estou sendo ingrata com as lembranças alheias? Qual o valor do direcionamento que procuro dar as minhas ações? Serão eles uma maneira de ser hipócrita? Ou realmente eu sinto o que faço como correto?
            Sei que as questões que nos incomodam acabam nos auxiliando no excelente processo de aprendizado moral, mas ainda sinto dor, nessa caminhada, e não raras vezes, lesada no amor que dedico aos que tanto preso.
            Ainda pergunto a esse espírito ignorante, eu mesma, sobre o valor de minhas relações afetivas, pois não é raro, ter a sensação de ser apenas aquela que é necessária nos momentos de sofrimento, para logo em seguida ser esquecida como parte indesejável desse momento.
            Hoje, sinto uma solidão imensa que me envolve, pois preciso ser escutada, mas o barulho a minha volta, acaba por calar a minha voz.
            Cora Coralina fez um poema que descreve a minha dor de hoje, mas isso passa e amanhã é um novo dia, e o bom é que a minha crença ainda faz par com a frase que iniciei essa prosa amiga:
Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.