sexta-feira, 24 de junho de 2011

Meus filhos serão reis e rainhas?


Meus filhos serão reis e rainhas?

            Fico aqui lembrando algumas coisas de um passado recente, para mim tão recente, que ainda é presente. Por exemplo: o dia em que meus filhos nasceram.
            A sensação de ter uma vida em minhas mãos, da responsabilidade imediata e intransferível em satisfazer as necessidades daquele pequeno ser.
            A maravilha e o susto quando percebi que atender as necessidades físicas não seria o suficiente, mas que minha responsabilidade ia muito além, que também seria de extrema necessidade observar as carências daquela alma que caminhava em direção a conquista de sua individualidade e identidade.
            Como espírita entendia que também participaria dessa conquista, ciente das implicações de um compromisso maior, como mãe, auxiliar no processo de educação e reeducação daquele espírito. Toda essa reflexão trouxe muitos questionamentos, reconhecimento de enganos cometidos durante a caminhada, mas, principalmente, o compromisso maior com a verdade amorosa e bela do recomeço.
            Participei ativamente de todas as brincadeiras, não importava de ter a vizinhança toda no meu quintal, de preparar lanches para três, dez ou vinte, de tropeçar em colchões espalhados pela casa inteira, etc.
            Observava as brincadeiras de príncipes e princesas, montados em cavalo de pau, chapéu e espada de jornal, lutando bravamente para salvar a vida de um amigo querido aprisionado pelo dragão imaginário.
            A noite falava sobre valores intransferíveis para nossa vida: a verdade, a fidelidade, a honradez, a amorosidade e a persistência em nos mantermos dentro e girando sempre nesses conceitos ainda tão abstratos. Depois cada um ia para seu quarto, recitava a prece simples, mas infalível para nossa proteção:
- Com Deus eu me deito, com Deus eu me levanto, com a graça de Deus e do Divino Espírito Santo.
            Daí a poucos minutos eu ouvia:
- Boa noite, mãe. Dorme com Deus.
- Boa noite, pai. Dorme com Deus.
- Boa noite, Cyrinho. Dorme com Deus.
- Boa noite, Bruna. Dorme com Deus.
- Boa noite, Andréa. Dorme com Deus.
            E assim, pelos menos quinze minutos se passavam, entre desejos de boa noite, dorme com Deus e muitos risos. Feliz, fechava os olhos e pedia ao Pai, que olhasse por meus filhos, que pudessem entender sobre a necessidade do respeito, do amor e da fidelidade, que se assim o fizéssemos e o quiséssemos em nossas vidas, seriamos reis e rainhas nos corações de nossos amores.
            Os anos foram acontecendo e suas identidades pessoais sendo construídas com suas vivencias, o seu sentir, as suas escolhas, algumas felizes, outras menos favoráveis a nossa liberdade de evoluir; assim como aconteceu em nossas próprias vidas.
            Hoje, estou meditando sobre tudo isso, anos de vida em comum com minhas princesinhas e meu principezinho, lembro de minha avó dizendo sobre não conseguir nos ver como adultos, e que sempre sentia a necessidade de fazer algo a mais, e não raras vezes, não sabia identificar o que seria, mas que também sentia não ser mais a hora de sua interferência, mas a hora apenas de observar, orar e acolher quando necessário fosse, e que de verdade mesmo esse foi o aprendizado mais difícil que já havia feito.
            Estou aqui, observando, orando e pronta a acolher e ainda insisto toda noite, apesar de não mais escutar a resposta, vocês se foram pela vida:
- Boa noite, meus filhos. Durmam com Deus. Desejo a vocês o reinado no coração do amor, mas principalmente, que saibam o quanto merecem ser amados.