segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Avenida Ipiranga 200

Avenida Ipiranga 200, Edifício Copan, São Paulo

Que Maravilha! Eu tenho uma história com o Edifício Copan, e ultimamente ando meio saudosa das histórias de minha infância e de minha juventude.

Eu nasci em Franca, a cidade de meu coração, mas aos nove anos minha família mudou para São Paulo, no endereço já comentado.

Na época essa maravilha da arquitetura moderna, projeto do admirável Niemeyer, ainda estava em construção, não havia elevadores funcionando, somente aquelas gaiolas externas, e nós moravámos no terraço, ou seja no 36o. andar, a vida lá de cima tinha outra aparência, ora de grandiosidade, ora de pequenez.

Nossa mudança foi feita nesses elevadores externos, que viagem fantástica, minha mãe subiu uma vez e só tocou o solo novamente, quando os elevadores internos ficaram prontos, aproxidamente três meses depois.

Ali conheci muitos amigos, o Bubi (Walter) filho do Sr. Nicolau e da Dona Maria, por onde andarão?

Formamos uma bela turma: eu, minha irmã Amália, minha irmã Ana, Rita Maria e Fernando, nossos primos e, com certeza, muitos amigos de estrepolias como a Marlene, a SIlvia, a Marina, o Peter, etc.

Tudo era uma festa, exploramos cada canto daquela cidade na vertical, era um mundo encantado. Os três primeiros andares, as sobrelojas, eram um mundo a parte, ali brincamos de pique-esconde, de corda, de correr, de casinha, de roda, etc.

O Bloco B e suas rampas eram um luxo! Começavámos a descer correndo no 32o. andar e só paravamos no térreo, haja folego!

O terraço, loucuras por ali fizemos, sentavamos na marquise que servia de telhado para nossa casa, com as pernas balançando para fora do prédio. Só de lembrar sinto um frio na barriga.

Aprendemos a andar de bicicleta segurando na grade do terraço. Fizemos um "book" todo original, vestidas de hippie e com a cidade de São Paulo como pano de fundo. Muito chique!

Domingão era dia de Feira Hippie na Praça da República, divertíamo-nos muito, com figuras incomuns e muitos garotos bonitos para paquerar. É isso mesmo, paquerar, olhar e corar. Nessa época as meninas coravam e os meninos engasgavam ou gaguejavam. Era muito bom!

Ah! Conhecemos o Roberto Carlos pessoalmente, tomando café da manhã em nossa casa, e vimos a filmagem de seu filme "Há duzentos quilometros por hora". Arranjei vários amigos temporários por causa disso!

Conversei pessoalmente com a Marília Pera, ela é fantástica, deu a maior força para a minha veia literária.

Sempre tive muitos sonhos e desejos a serem realizados, era, realmente, inocente e sem malícia, então sempre esperei muito da vida. Hoje, no aqui e agora, aos cinquenta e seis anos, posso dizer que amo muito o que vivi e estou apaixonada pelo presente, e o futuro...?

Sonhos e mais sonhos
e sei que poderei fazê-los real,
é só acreditar,
e eu acredito,
afinal sou uma garota
dos anos 70. 


domingo, 20 de fevereiro de 2011

Nada encoraja tanto ao pecador como o perdão. (William Shakespeare)

Tive a felicidade de conviver com uma pessoa incrível, minha avó materna, a Dona Nenê. Ela sempre nos dizia sobre a importância de sabermos pedir "desculpas" ou "perdão", e enfatica, nos fazia raciocinar sobre as razões de nossas ações. pois cada uma delas tinha o seu valor; e, esse valor, está relacionado a quem nós somos. Confesso que, somente hoje com cinquenta e seis anos, passei a entender um pouquinho do que dizia essa pequena senhora sorridente, mas que em minhas lembranças sempre foi de alta estatura. Dona Nenê nasceu em 1880, viu a abolição dos escravos, brigou pelo que é certo, defendeu seus direitos numa época em que a mulher nem mesmo podia votar, e segundo ela foi depois desse evento que acabamos arranjando confusão com o mundo masculino. Meu avô Antonio, marido dessa maravilhosa senhora, nos contava que casou com ela por causa de acordo familiar, ele com 32 anos e ela com 13 anos, ele boêmio e boa vida, ela consciente de seus deveres e também de seus direitos. No primeiro mês de casado, ele sumiu por uma semana, saiu à noite de terno branco, violão apoiado no ombro e foi pela noite francana do final do século XIX (1893), voltou uma semana depois, assim que bateu na porta, nunca antes trancada, recebeu de imediato o peso de uma enorme trouxa de roupas, ali estavam seus pertences pessoais, foi literalmente jogado fora de casa (isso em 1893). Ficou sentado na soleira da porta por mais uma semana, alimentado pelos vizinhos, que achavam um horror o comportamento da menina petulante. Voltou para casa e cumpriu à risca as exigências de sua esposa, a quem respeitou até o seu último suspiro.

Estou falando um pouquinho de minha querida avó Nenê, para que possam ter uma idéia da força dessa mulher, da importância de sua presença em minha vida. Ela nos dizia que quando inventaram a desculpa e não explicaram a sua importancia, nasceu o primeiro sem vergonha, e hoje o que mais se vê por aqui são situações que comprovam essa teoria. Afinal, se fizermos algo errado, ou magoar alguém, basta pedirmos desculpas; se fizermos de novo, pedimos desculpas de novo; e, assim os valores estão sendo corrompidos de tão maneira que não mais nos importamos em abaixar a cabeça e ...

Determinadas ações somente passam a ter valor intrínseco e real quando vem precedido de reflexão, se cometo alguns enganos em minhas ações, preciso urgentemente, descobrir os motivos que me levaram a esse deslize. Se magoei alguém, preciso saber o porquê e modificar minha ação de maneira consciente, justificar meu engano de forma clara e concisa, sem delongas e sem a sensação de estar me humilhando perante o meu ofendido. Afinal de contas, se chego a conclusão que realmente atropelei minhas idéias e as corrompi com sentimentos desequilibrados, o ato de pedir desculpas ou perdão, é apenas consequência direta de um exercício danado de bom, o do auto-conhecimento, que nos leva a auto-transformação, que nos possibilita brilhantes momentos de humildade e não de humilhação; outra bagunça que ainda andamos praticando: confundir humildade com humilhação.

Então chego a uma conclusão pessoal que é o início de nossa reforma intima, pessoal e instranferível:

Sou a única pessoa no mundo
que eu realmente queria
conhecer bem, afinal só posso fazer alguém
feliz, quando entender a minha
felicidade.