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Eliane Macarini, Elzo Maccarini e Ana Macarini |
Hoje faz um mês que meu pai partiu.
Não sei se consigo falar com
naturalidade sobre esse fato, ainda dói bastante, sinto saudades, questiono
algumas coisas, que fiz ou deixei de fazer.
Ando naquela fase de avaliar esse
relacionamento, mas também percebo que essa análise anda meio tosca, alquebrada
pela dor dos últimos dias.
Então... Deixo para lá, para no momento seguinte,
num lampejo rápido ver o rosto de meu pai.
Foram doze dias internados, da última vez,
porque no ano de 2015, estar por dias junto dele no Hospital São Francisco, era
fato corriqueiro. Quando penso nesse fato vejo que posso olhar para o passado
com tranquilidade, estava com ele e ponto.
Voltando aos doze dias, foram
difíceis, muito sofrimento físico, ele teve uma pneumonia aspirativa, e era um
paciente de risco respiratório há mais de três anos, um enfisema pulmonar grave
o debilitava e o mantinha preso a um concentrador de oxigênio.
Meu pai era um bom garfo, adorava comer,
sentava à mesa no café da manhã com aquele olhar de expectativa... O que será
que tem hoje?
Sentava à mesa no almoço e dizia: - Estou
com fome, o que você fez hoje?
Às 4 horas da tarde ele aparecia na
cozinha, olhava de um lado a outro e perguntava: tem lanchinho?
A sopinha do jantar era obrigatória, calor
ou frio, ele a degustava com carinho.
E às 22 horas os remédios eram ingeridos
com um chazinho de erva-doce.
E naqueles doze dias antes de ser sedado,
não podia comer ou beber nada. Quando passava o carrinho da copa pelo corredor
dos quartos, seus olhos se enchiam de lágrimas. E várias vezes nos pedia, a mim e
a minha irmã Ana Macarini, que nós lhe déssemos pelo menos um cafezinho.
Isso dói! Ele estava com fome e sede,
perto de completar 90 anos, ele estava com fome e sede.
Isso anda me perseguindo de forma...
desequilibrada?
Não sei, mas dói.
Eu sou espírita, estudo muito, faço
palestras, acredito em vida após a morte, em múltiplas vivências, acredito de
verdade mesmo; mas, vivenciar esse conhecimento tem cobrado de mim, o exercício
consciente do fato; mas... a emoção de estar presenciando o sofrimento de
alguém que fez parte ativa em nossas vidas, a quem amamos irrestritamente, não
raras vezes, rouba-nos a lucidez da reflexão... e questionamentos menores,
desnecessários, os ranços vividos nestes momentos traumatizantes, voltam a
nossa mente e nos cobra o devido lugar.
O que faço com essa dor latente que insiste
em permanecer ativa?
Viver o luto? O que seria isso?
De que maneira fazemos isso?
Temos escolhas e podemos
refletir sobre tudo?
Refletir sem embustes, sem enganos, sinceramente?
Cada dor tem seu tempo, seu lugar, seu
papel em nossas vidas.
E ser espírita e portar conhecimentos sobre essa bendita
filosofia, não nos permite dar saltos.
Estou sofrendo e ponto.
Preciso colocar
cada sensação, cada sentimento, cada ação em seu devido lugar.
E hoje, agora, só posso dizer com certeza:
- Senhor Elzo estou com muitas saudades!
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