terça-feira, 25 de setembro de 2012

TOMODASHI, EU E O LAGO

TOMODASHI, EU E O LAGO

Aqueles foram dias difíceis, meu coração palpitava ansioso em busca de respostas para tanta dor, minha alma insatisfeita recusava a realidade que me confrontava a fé.
Entrei, quieto e triste, no consultório do médico, esperava os resultados daqueles exames como se não mais houvesse o amanhã.
            Estava sozinho, eu, meus preconceitos e minha falta de esperança, ouvi o diagnóstico em silencio, eu estava com leucemia, nem mesmo perguntei sobre sintomas, curas ou mesmo se minha vida estava terminando.
            Sai dali apalermado, com pena de mim mesmo. Não sabia o que fazer para minimizar minhas dores e meus receios, não alimentava esperança, nem mesmo acreditava no futuro.
            Parei o carro junto ao Bosque Municipal, na cidade de Ribeirão Preto, olhei para a imensa área verde, resolvi andar por ali, quem sabe assim esgotava aquele cadinho de sofrimento, e quando saísse dali a vida teria voltado a ser feliz.
            Caminhava vagarosamente, sem ver, sem sentir, sem sonhar. Sentei em uma pedra, estava no Jardim Japones, algumas pessoas caminhavam e desfrutavam o bem estar da manhã radiosa.
            Levantei de meu assento, cabeça baixa, pensamentos negativos e infelizes; aproximei-me de um lago e fiquei observando os peixes que afundavam e voltavam à superfície. Pensei, angustiado:
- Eu apenas estou afundando, nunca mais irei emergir desse poço de escuridão.
            Um senhor de aparência frágil, os olhos rasgados, a pele viçosa e os lábios desenhados num sorriso feliz, ainda com dificuldades para se expressar em português, se aproximou de mim, tranquilo falou:
- Sou Tomodashi. Aqui lago é curto, não morri não.
            Olhei para aquela pequena criatura e pensei:
- Deve ser do Japão, ainda nem fala português direito. Até parece que ele sabe o que me vai na alma.
- Olhos são espelhos, gente precisa saber enxergar no espelho. Olhos tristes e sem esperança, amargura no coração. Tomodashi de Tomodashi pode ser.
- Tomodashi de Tomodashi.
            Ele riu feliz e falou com humor:
- Tomodashi, é nome meu; mas tomodashi também é palavra para amigo.
            Ainda confuso por minha própria dor, não entendi direito a sua fala, então perguntei:
- Tomodashi, quer dizer amigo?
- Isso, isso, Tomodashi quer ser do senhor.
- Sou André, e estou triste porque descobri que estou muito doente.
- Ah! – Tomodashi fez pequena pausa e continuou – doença é triste mesmo, principalmente, quando nos rouba o tempo de felicidade. Tomodashi também está doente do corpo, mas não da esperança. Médico falou: tem seis meses. Tomodashi resolveu que esses dias serão os melhores, afinal é bastante tempo para amar mais e olhar a vida com alegria. Tomodashi resolveu não perder esse tempo de esperança.
- E quanto tempo ainda lhe resta?
- Nem Tomodashi, nem médico sabem, já passou seis anos.
            Olhei para o rosto sorridente de meu tomodashi, feliz abracei-o e sai correndo, precisava ver meus netos, meus filhos e minha esposa.
            Havia dado alguns passos, lembrei que precisava saber onde encontrar meu novo amigo Tomodashi, então voltei atrás em meus passos, mas ele não estava lá.
            Uma senhora sentada a minha frente, sorriu e falou com carinho:
- Eu também o vi uma vez, e nunca mais o encontrei, mas está em minhas preces de agradecimento todos os dias.
- E quem é ele?
Ela me olhou com os olhos marejados de lágrimas e, emocionada, falou:
- Um presente de Deus.


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