terça-feira, 17 de abril de 2012

CARIDADE PARA AS FORMIGAS

Trabalho como voluntária na Sociedade Espírita Cáritas, outro dia, coordenado um trabalho de educação mediúnica, na hora destinada aos estudos e reflexões, as pessoas começaram a questionar sobre a esmola.
Qual o valor de dar-se algo a alguém sem ter vínculos que levam a um processo de aprendizagem?
Dar dinheiro é certo ou é errado?
Então lembrei uma história vivida por uma prima muito querida, a Olga, e minha tia do coração, Anita Gilberto, a dona Nita como era conhecida, nessa encarnação.
Somando a essa minha experiência , minha conclusão sobre esse polêmico assunto está assentada em uma máxima do Evangelho de Jesus: Dar sem olhar a quem, ou, fazer o bem pelo bem. 

Só isso! 

Fácil? Não mesmo, afinal, espíritos impuros e ignorantes, ainda estamos descobrindo a diferença entre o bem e o mal.
E voltando a história de minha prima, a Olga estava sentada na porta de sua casa, na cidade de Franca, era domingo, final de tarde, observava a rua tranquila, vez ou outra passava uma criança de bicicleta, outra vez um carro dirigido por uma pessoa de olhos tristes ou alegres, e assim passava o dia. De repente, levantou os olhos e a sua frente um garoto lhe disse:
- E aí, tia, tem umas moedas para dar?
Naquele momento a Olga pensou:
-  Será que ele é do mal? Pode ser um ladrão! O que faço? Credo! Tô parecendo esse povo que só pensa mal dos outros, não quero isso não!
Sem saída, ali acuada entre a porta de sua casa e o jovem, que já via como um necessitado, resolveu manter a calma e disse sorrindo, daquele jeito especial que ela tinha, um sol que iluminava a todos:
- Dinheiro não tenho, mas posso fazer um lanche para você.
- Tá bom.
Ela entrou em casa e encontrou sua mãe, a tia Nita, na cozinha, terminando de limpar as louças, que logo perguntou se ela ia fazer bagunça de novo.
- Ah! Mãezinha tem um mocinho na porta com fome, vou fazer um lanche para ele com a sobra do almoço.
- Voce não toma jeito, não aprende mesmo. Eles não comem nada, jogam tudo fora, esses vagabundos só querem é dinheiro.
- De qualquer forma, eu vou fazer o lanche.
- Não falo mais nada. Faça do seu jeito, mas depois não reclama.
Rindo do jeito descrente da minha tia Niita, ela fez o lanche, entregou para o rapaz que o recebeu com um sorriso e agradeceu com amabilidade.
Uma hora após a inesperada visita, minha tia saiu de casa para visitar uma prima adoentada; mas, em poucos minutos estava de volta, com o rosto afogueado, gesticulando nervosa, enquanto falava coisas sem muito sentido. Preocupada, a Olga pediu a ela que se acalmasse e falasse com calma.
- Eu não falei? Eu não falei? Você com essa história de caridade... o desgraçado saiu daqui com o lanche na mão e agora está lá na esquina, jogado no chão e cheio de formiga.
Então a Olga sorriu daquela figura ímpar, amada e abençoada, sua mãe, e disse com calma:
- Mãezinha, eu fiz caridade para ele aqui e ele para as formigas lá na esquina.
Foi a vez de Dona Niita olhar para ela, e  gargalhando, disse:
- Só você mesma, para ver bondade nessa história.

Saudades de você querida prima, que sua estada por ai, no mundo dos espíritos, seja tão marcante como esse período que esteve conosco por aqui. Eu a amo muito, sempre!

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Fernando Sabino

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