domingo, 16 de outubro de 2011

Morrer ou Desencarnar?




MORRER OU DESENCARNAR?

Eita, conceito difícil de assimilar e viver a diferença entre um e outro!
O primeiro, morrer, quer dizer: cessação da vida, extinção das funções vitais; enquanto que desencarnar, quer dizer: deixar a carne, passar para o mundo espiritual; então morrer é triste, é o fim, acabou, enquanto que desencarnar nos faz entender sobre um novo começo, mas com continuidade. Aprendemos com O Livro dos Espíritos, Livro II, Capitulo III, nas seguintes questões:
149. Em que se transforma a alma no instante da morte?
– Volta a ser Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos, que ela havia deixado
temporariamente.
150. A alma conserva a sua individualidade após a morte?
– Sim, não a perde jamais. O que seria ela, se não a conservasse?
150-a. Como a alma constata a sua individualidade, se não tem mais o corpo material?
– Tem um fluido que lhe é próprio, que tira da atmosfera do seu planeta e que representa a aparência da sua última encarnação seu perispírito.
150-b. A alma não leva nada deste mundo?
– Nada mais que a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura ou de amargar, segundo o emprego que tenha dado à vida. Quanto mais pura ela for, mais compreenderá a futilidade daquilo que deixou na Terra.”
Tudo é muito simples e lógico dentro desta admirável filosofia espiritista, eu sou estudiosa da Doutrina dos Espíritos desde os cinco anos de idade, e feliz, acreditava estar cada vez mais educada espiritualmente; mas, nos últimos anos, descubro a cada dia, admirada com minha prepotência, que havia apenas assimilado conceitos teóricos. Por que?
Porque na hora de exercitar tais conceitos ando reticente... o desencarne ainda me parece uma grande perda, uma injustiça divina para aqueles que partem e para aqueles que ficam. Concluo que eles morreram, e aquele conceito básico que ando estudando sobre as múltiplas vidas, parece tão distante e tão triste, que acabo por questionar a sua serventia. Nesses momentos descubro, admirada, de minha própria insensatez, que a idéia imediata da distancia, rouba a minha crença ainda tão frágil diante das situações que ando vivenciando.
Descubro, ainda, que esse estado de alma, acaba por transitar entre algumas fases bem características de minha evolução moral e intelectual, e elas são bem delineadas:
  1. O susto: descobrir que alguém, a quem amamos, e já tínhamos decidido que faria parte de nossa existência até o final, partiu e não tem como voltar da mesma maneira, isto é encarnado(a);
  2. A obrigação, como espírita, de fazer cara de paisagem e atender a expectativa das outras pessoas que nos observam; se são espíritas, nos vigiando para ver o tamanho de nossa fé, e, os não espíritas, para fazer um teste e descobrir se esse negócio de espiritismo é bom mesmo. Esse estágio somos, literalmente, obrigados a não sofrer e sorrir quando nos questionam: “- Como você está?”, equilibradamente, então respondemos: “- Muito bem, afinal sei que ele(a) está muito bem.”
  3. Essa fase é a da comparação: olhamos a nossa volta e vemos um monte de desequilibrados, divulgando o sofrimento e a dor no planeta, mas ainda por aqui, e o nosso amor, tão bonzinho se foi. Então, precisamos entender: “Que quem é bom não precisa ficar por aqui.” Essa fase é a propulsora da revolta, afinal se estamos entrando na reta final de transformação planetária, quanto mais gente boa por aqui melhor.
  4. Estamos saindo da revolta, e entrando na rotina do dia a dia, a saudade bate forte, tudo que fazemos hoje sozinhos, antes contávamos com a presença do outro para dividir decisões, trocar idéias, etc. etc. etc. Ou até mesmo ficar quietos, longe um do outro, mas sabendo que ele(a) estaria ali a um toque da mão, do telefone, ou mesmo nas redes de comunicação. Aí vem um espírito de porco para nos dizer que nossa saudade faz mal ao que partiu.
  5. Por fim, vem a acomodação, das idéias, dos sentimentos, junto com o esquecimento do povo sobre a sua perda. Nesse momento, nós podemos racionalizar a informação que ainda não foi assimilada de maneira correta. Sentimos alívio quando andamos pela rua, e as pessoas não mais nos apontam, como se fossemos, verdadeiras aberrações da natureza.
Daí o tempo vem e acaba colocando as coisas em seus devidos lugares, meio envergonhada das minhas emoções desencontradas de minha crença, reflexiono sobre o acontecido.
Faço parte de um processo histórico que vem se desenvolvendo em meu intelecto há n encarnações, e o conceito de continuidade para mim, pelo menos, começa a tomar forma hoje, nessa oportunidade, então nada mais natural que antigos resquícios emocionais e intelectuais, aflorem e despertem sentimentos contraditórios as minhas novas aquisições de conhecimento. Essa nova postura baseada na filosofia espírita fornece novas informações de como posso me comportar diante de determinadas situações, isso não quer dizer que já substitui hábitos adquiridos em inúmeras outras vivencias. Normal, ainda, ter dúvidas e sentir receio desse afastamento, principalmente, porque não dominamos a qualidade de vida daquele que partiu, por isso mesmo, não podemos ter certeza absoluta que ele está como gostaríamos que estivesse, mas sabemos que ele está como precisa.
Fico muito irritada quando alguém me diz: Quem é muito bom não precisa ficar por aqui.
Nossa! Se já estou sofrendo com a partida do outro, ainda tenho que assimilar o conceito que se eu fiquei é porque não sou boa coisa? Que inferno!
Sinto saudades sim, eu choro, eu me lembro das coisas boas, mas na maioria do tempo as ruins que deram origem a partida, são as mais fortes, no primeiro momento da separação. Minhas intenções são as melhores, sinto amor com saudade, e preciso expurgar essa dor antes que ela se transforme em obsessão. Não acredito que minha dor saudável atrapalhe a caminhada do companheiro que partiu, ele deve estar sentindo o mesmo e irá compreender, e dividir comigo mais esse pedacinho na vida, afinal, ela, a vida ainda não acabou.
Nossa! Como é bom quando esquecem que nós estamos sofrendo, mas nos olham de maneira positiva e firme, apenas nos mostrando que estamos acompanhados e apoiados para superar o momento do trauma recente.
Nossa! Como é bom não precisar escutar opiniões atrapalhadas sobre os nossos sentimentos, que ainda nem sabemos quais são.
Nossa! Como é bom ficar anônimo, de mãos dadas com a amizade verdadeira, que apenas está ali, da maneira que nós precisarmos.
Ah! Se pudéssemos pensar e sentir assim, saberíamos, com certeza, que:

"Morrer é apenas não ser visto.
Morrer é a curva da estrada."
(Fernando Pessoa)

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